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Foto do escritorAntónio Sousa

Análise e Melhoria de Processos Transacionais


processo transacional

INTRODUÇÃO


Na já longa história da melhoria contínua e do Lean, muitas das ferramentas e, por consequência, muitos dos exemplos conhecidos são provenientes de operações industriais. De facto, devido à sua importância e impacto em empresas industriais, os processos que fazem parte do que habitualmente se designa por Operações (por exemplo Produção, Logística, Manutenção, Qualidade) são alvo de análise, medição e melhoria constantes. Por outro lado, noutros departamentos e funções há muitos outros processos que, pela sua natureza, não têm, normalmente, tanta visibilidade. O que não quer dizer que não representem uma fatia importante dos custos e que não tenham potencial de melhoria.


Tal como nos seus congéneres na produção, há múltiplos exemplos de tarefas sem valor acrescentado nos processos transacionais. Fazendo um paralelo com a conhecida lista dos 7 Mudas do Sistema de Produção Toyota, podemos identificar os seguintes:



Processos de produção

Processos transacionais

Produção em Excesso

Produzir mais do que o necessário ou antes do momento em que é necessário

Fazer relatórios que ninguém lê

Produzir informação supérflua ou com demasiada antecedência

Fazer cópias extra

Comprar licenças de software em maior número do que o necessário

Stock

Produto ou matérias-primas paradas no processo

Informação à espera de ser processada

Consumíveis

Processos em curso (encomendas, projetos, reclamações)

Transporte

Movimento de materiais e produtos entre operações

Transferência de informação entre operações ou intervenientes

Deslocações para levar/recolher documentos, informação, assinaturas

Espera

Tempo em que os colaboradores presentes no posto de trabalho, mas em que, por algum motivo, não podem executar as operações


Processo

Duplicidade de operações no mesmo processo

Usar software inapropriado

Utilizar formulários com informação duplicada ou redundante; CC nos emails

Excesso de aprovações

Transferir informação de um sistema para outro

“Aperfeiçoamento” de uma comunicação ou apresentação interna

Utilização de registos individuais vs. sistema informático

Movimento

Deslocações dos colaboradores devido à forma como o processo está organizado


Não Qualidade

Produto que não está de acordo com as especificações

Erros (faturação; processamento salários…)

Perda de informação

Informação tardia

Informação incompleta

Informação ilegível

Apresentamos, de seguida, uma proposta de abordagem à melhoria deste tipo de processos.


LEAN EM PROCESSOS TRANSACIONAIS


Os conceitos e ferramentas Lean são aplicáveis a qualquer processo. Tendo claros os conceitos, é, apesar de tudo, necessária alguma adaptação para os aplicar aos processos transacionais, devido a algumas das suas características:

  • Não são tão facilmente observáveis como os processos de produção

  • Os colaboradores desempenham diferentes atividades ao longo do dia/semana

  • Certos processos transacionais são bastante longos (por exemplo um processo de desenvolvimento de produto), o que obriga a obter dados de forma diferente

  • Têm, muitas vezes fluxos complexos com informação a circular em diferentes sentidos

Junta-se a isto o facto de não ser tão simples ou evidente aplicar diretamente as ferramentas Lean normalizadas há mais tempo e mais conhecidas, como os 5S, SMED, Melhoria de Fluxo, Fluxo puxado.

Torna-se assim necessário dispor de uma ferramenta que nos permita caracterizar a situação atual em termos de fluxos bem como em termos de dados e indicadores, antes de iniciar a aplicação de ferramentas Lean.


MAPEAMENTO DO PROCESSO - SWIMLANE


Não sendo a única forma de mapear um processo transacional, o mapeamento Swimlane tem vindo a ser utilizado, com sucesso, em muitas atividades de melhoria. O seu nome deve-se à semelhança com as pistas de uma piscina, sendo que cada uma delas representa uma função interveniente no processo.





Esta ferramenta permite retratar o processo de forma global, tendo em conta todas as atividades necessárias à satisfação de uma solicitação do cliente. Este exercício de mapeamento é um trabalho de equipa, que reúna o conhecimento das diferentes etapas do processo.

Este trabalho de equipa permite construir uma visão global do processo que passa a ser partilhada por todos os intervenientes, que rompe com as visões individuais, em que cada um conhece apenas a sua parte e não tem a exata noção do impacto do que faz na performance do processo e nas outras atividades.

De seguida apresentamos um exemplo simplificado do resultado de uma atividade de mapeamento, neste caso de um processo de pedidos de manutenção em edifícios:






Desta análise extraem-se, tipicamente, os seguintes indicadores:

  • Tempo de processo: somatório do tempo de execução das atividades, neste caso 49,4 minutos

  • Tempos de espera: somatório das esperas (informação que aguarda processamento), neste caso 47,9 dias.

  • Lead Time do Processo: tempo que passa desde a solicitação inicial até ao final do processo (no caso deste exemplo, Faturação) = 47,9 dias + 49,4 minutos

 

Com base no mapa da situação atual e nos dados recolhidos, é possível fazer uma primeira identificação do desperdício do processo. De seguida apresentamos algumas perguntas chave para esta análise:

  • Trabalho duplicado: A mesma atividade é repetida em pontos diferentes do processo?

  • Esperas: Quais os pontos do processo com maior tempo de espera?

  • Lead-time: O lead-time do processo é aceitável, ou os clientes acham-no demasiado longo?

  • Elevada percentagem de questões: Em que pontos uma elevada percentagem de questões/dúvidas impede a realização das atividades de valor acrescentado?

  • Problemas de qualidade: Existem pontos do processo com elevada taxa de erros?

  • Trabalho em paralelo: Onde é possível reduzir o lead-time do processo através da execução de tarefas em paralelo?

 

Após esta análise pode também ser necessário analisar com mais detalhe as tarefas dentro de cada atividade, qual a sua duração e classifica-las (Valor Acrescentado (VA) ou Desperdício):



A partir desta análise é necessário pensar como eliminar ou reduzir os desperdícios identificados:




O passo seguinte, depois de identificadas e caracterizadas estas oportunidades de melhoria, é selecionar aquelas a implementar, em função do seu impacto e esforço de implementação. O processo resultante da implementação dessas melhorias é representado no mapa do estado futuro:



A implementação das melhorias permite o seguinte impacto nos indicadores:

  • Tempo de processo: de 49,4 minutos para 45 min

  • Tempos de espera: de 47,9 dias para 17,4 dias

  • Lead Time do Processo: aproximadamente 17,5 dias

A seguinte etapa desta abordagem é a elaboração de um plano com todas as ações necessária à implementação do estado futuro do processo, qual a sequência, quais as datas de implementação e quem são os responsáveis de cada uma.


EM SÍNTESE


Uma vez que os princípios Lean foram desenvolvidos e inicialmente aplicados em processos industriais, é necessário ajustar o ponto de vista de forma a aplicá-los noutros contextos. Como noutros casos, também aqui é mais importante encontrar formas de entender o processo, mais do identificar que ferramenta utilizar. Também por isso nos pareceu mais importante apresentar uma forma de entender o processo do que dar exemplos de aplicação dos 5S e do SMED a processos transacionais.

Se entendermos bem o processo e se as necessidades do cliente estiverem bem caracterizadas é possível com o método apresentado identificar atividades sem valor acrescentado e, por conseguinte, trabalhar na melhoria do processo e melhorar a sua eficiência, qualquer que seja o negócio e a localização geográfica.


REFERÊNCIAS


John Bicheno

“The Service Systems Toolbox”

PICSIE Books, 2008

ISBN: 978-0-9568307-0-8

 

“The Lean Office – Collected Practices and Cases”

Productivity Press, 2005

ISBN: 1-56327-316-0

 

James Womack and Daniel Jones

“Lean Solutions”

Simon&Schuster, 2005

ISBN 0-7432-7595-0

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